Valci
Melo
Há cada 02 anos, nós brasileiros
dispomos da obrigação e da oportunidade de escolhermos um grupo de
pessoas que, teoricamente, deverão deixar para segundo plano seus problemas e
ambições pessoais para tratar com prioridade os problemas e necessidades
coletivas.
Digo
teoricamente por que, como tem demonstrado a história até então, no interior da sociedade divida em classes
sociais, mesmo em situações nas quais vigore realmente a política – e não a
politicagem, como é comum no caso brasileiro![1]
-, é essencialmente impossível construir,
através e sob a liderança do Estado, um projeto societário que consiga atender satisfatoriamente
às necessidades fundamentais de todos, sobretudo, dos trabalhadores/as.
Isto
por que, como já salientavam Marx e Engels há 164 anos quando da publicação do
Manifesto do Partido Comunista: “o poder político propriamente dito é o poder
organizado de uma classe para a opressão de outra” (MARX & ENGELS, 2008, p.
67). Ou seja, sendo a política a
forma de exercício do poder público
característica da sociedade de classes,
é ilusão esperar construir única e exclusivamente por meio dela, em especial no
âmbito estatal, a “sociedade onde todos caibam” – condição basilar para que sejam
realmente resolvidos os problemas coletivos!
No entanto, não é o fato de ser a política uma
atividade essencialmente comprometida com a reprodução dos interesses da classe
dominante que não seja possível também utilizá-la, mesmo que de forma limitada,
em favor dos interesses da classe dominada. Até porque, se é verdade que “não
há nada ruim que não possa ficar pior”, o
abandono da participação no poder público simplesmente por que ele ainda tem um
caráter político distancia-nos mais ainda da construção do seu caráter social.
E
se isso é verdade, o processo eleitoral é
um dos acontecimentos políticos que exige tanto dos eleitores quando dos
candidatos, em especial, no âmbito dos municípios, uma maior qualificação e responsabilidade.
Ou seja, tanto é comum por parte dos eleitores um comportamento individualista,
como se estivessem votando em alguém que cuidará apenas do seu dinheiro, como
também é frequente a existência de candidatos cujo único motivo para estarem disputando
o cargo é a possibilidade de “subirem na vida” de forma mais fácil.
E
pior ainda é a postura de ambos após as eleições: os governantes, em sua
maioria, passam a se comportarem como se fossem donos da coisa pública. Já os
eleitores, comumente, ou ficam indiferentes à atuação dos eleitos, ignorando
que o dia a dia, inclusive o seu, pode ser pior ou melhor a depender de quem sejam
os governantes; ou apenas identificam os erros, mas não fazem nada para que
seja diferente; ou assumem uma postura de “puxa-saco” para tentarem levar
alguma vantagem pessoal durante o mandato dos seus ídolos.
Nenhuma
dessas posturas, é óbvio, faz da política um instrumento capaz de contribuir
com a luta em prol da construção de uma sociedade melhor. Para que isso
aconteça, é preciso que as eleições
e o voto sejam vivenciados apenas
como um dos momentos de participação nas decisões que afetam a
vida coletiva. E tomar parte no mandato
dos governantes não pode ser compreendido nem exercido como puxa-saquismo, perseguição partidária ou tarefa
daqueles que tiveram seus candidatos eleitos, pois os escolhidos são: 1) funcionários
públicos com responsabilidades a cumprir, e não, donos de um mandato para dele
fazerem o que bem entenderem; 2) eleitos pela maioria e, portanto, legalmente
constituídos; 3) pagos pelo dinheiro que sai dos bolsos de todo mundo, independente
se os queria ou não como representantes
políticos.
Assim
sendo, conclui-se que a relação entre eleições e mudança social envolve inúmeros
limites e apenas algumas possibilidades, as quais, se não forem melhor aproveitadas,
poderão desmentir o “sábio” Tiririca que afirmava: “pior do que está não fica!”.
[1] No âmbito do poder
estatal (municipal, estadual, federal) política se refere à atividade por meio
da qual as pessoas são eleitas e pagas - muito bem, por sinal! - para cuidarem
daquilo que é de todos/as: saúde, educação, segurança, emprego, moradia,
esporte, cultura e lazer, obras, previdência etc. Politicagem é o desvio do
caminho esperado.
Um comentário:
Muito boa a matéria mas, infelismente as pessoas não te este intendimento.
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