Valci Melo
valcimelo@hotmail.com
facebook.com.br/valcimelo.al
Eram três horas da madrugada. Acordou-se com os galos da
redondeza disputando o título de maior cantador. "Bem que poderia dormir um pouco mais, até
porque é domingo!" - pensou consigo mesmo. Porém, logo se lembra das obrigações: “Sim, é domingo, mas se
não levantar logo para cuidar nos afazeres... Se ficar de boa vida...” – resmungou.
Ganhou forças,
meteu dos pés, cumpriu sua devoção com três sinais do cristão acompanhado de
palavras meio que automáticas, sentou-se aos pés da cama provocando certa
chiadeira no colchão de capim.
A mulher,
incomodada, puxa a coberta de retalhos e vira-se pro outro lado. Ele se
levanta, aproxima-se da cabeceira da cama e com o tato procura o fósforo e
acende o candeeiro. Esfrega os olhos, estica-se e pega a calça remendada
pendurada num torno. Em seguida a veste por cima de um calção de malha azul
juntamente com a camisa listrada “cor de bunina”.
- Mazé!
- Hum?
- Eu vou ver uma
carrada d’água na fonte pros bichos e mais com pouco você vá pra cacimba
arrumar pra beber. Viu?
- Hunrum!
Com o candeeiro
vai até o quarto dos meninos.
- Ciço! Oh Ciço!
Ciço!
- Senhor!
- Levante, meu
filho, pra nós ir ver uma carrada d’água enquanto é cedo.
Meio enfadado o
moleque ergue-se apertando os olhos enquanto o pai “encanga” os bois.
- Ciço! Oh Ciço!
Ciço!
- Senhor!
- Bora, meu
filho, pra não chegar aqui meio dia!
O moleque pula da
rede, puxa a porta, escora-a com um pano de prato sexta-feira encardido e sobe
no carro de bois.
- Se Deus quiser
umas nove horas nós estamos em casa, né?
- Hunrum!
Nenhum comentário:
Postar um comentário