OS DIAS GRANDES: LEMBRANÇAS DE UM PASSADO PRESENTE*



Valci Melo
valcimelo@hotmail.com



Os Grandes Dias se aproximam. Quase nada resta da feira anterior. Falta açúcar, farinha, arroz, café... E dinheiro para comprá-los. Mas é Semana Santa e tem que ter umbuzada, peixe e presente para os meninos venderem aos padrinhos.


Na Quarta-feira, Jerusa sai na comunidade pedindo o jejum. Não pode comprar nada nem tampouco passar os Dias Grandes em branco.


Antonia, que não é besta, sai na Quinta-feira cedinho para a casa da madrinha Madalena; lá a mesa é farta e comerá como gente.


Seus irmãos caminham alegremente com os capões que engordaram durante todo o ano para trocarem por dinheiro com as madrinhas. Também vão comer como gente...

Chega então o Dia Fino. É Sexta-feira Maior. Nada de tomar banho, varrer a casa, costurar, andar montado, usar perfume... “É o dia que Jesus morreu para nos salvar” - filosofam os mais velhos. Contudo, pode-se comer tinã, arroz, macarrão, peixe, ovos, verduras, frutas a vontade, exceto doce. Se comer é Judas... Judeu!

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* Fragmento do livro de contos e crônicas intitulado Pedaços de nós (obra em construção. 

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