O GRITO DAS RUAS: “NOVO” MECANISMO DE EXERCÍCIO DA SOBERANIA POPULAR?



 Valci Melo 

valcimelo@hotmail.com





O gritos das ruas está ecoando nos mais diversos setores e recantos da sociedade brasileira. Depois da revogação do aumento das tarifas do transporte público, entre as variadas bandeiras que continuam a ser defendidas nas manifestações, destacam-se aquelas que exigem a qualificação dos serviços públicos de saúde e educação e o combate à corrupção dos representantes políticos.



O momento se constitui numa das maiores oportunidades recentes que o Brasil já teve para fazer mudanças profundas, as quais, como sabemos, demandam mais que "boa vontade" política de alguns governantes.



Vivemos numa sociedade de classes e os interesses destas são não apenas diferentes, como também – e principalmente -, antagônicos. Neste contexto, o Estado assume as demandas daqueles que exercem maior pressão sobre ele - no caso brasileiro até então, os grandes empresários, banqueiros, latifundiários, etc.



É, pois, chegada a hora de inverter este cenário. Para tal, penso que o grito das ruas deve se constituir não apenas num movimento "espontaneísta", mas sim, num mecanismo contínuo, organizado e consciente de exercício direto do poder e de gestão coletiva da sociedade brasileira. E acredito que um passo importante para isso seja pautar a reforma política do Estado brasileiro e exigir que a mesma não se dê nos moldes do Congresso atual, e sim, que seja discutida e aprovada por uma Assembleia Nacional Constituinte especificamente convocada para tal, como sabiamente propõe o senador Cristovam Buarque.



Quanto à saúde e a educação, para começar, penso que o grito das ruas pode ser mais específico e apoiar questões já em discussão como o Projeto de Lei de Iniciativa Popular Saúde+10, que propõe a destinação de 10% da receita bruta da União para a saúde pública, bem como, a aprovação imediata do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020) que prevê a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação.



Por fim, mas não encerrando a discussão, penso que duas outras questões também merecem destaque: 1) a heterogeneidade– e até, em alguns casos, oposição - das bandeiras erguidas; 2) a suposta rejeição ao envolvimento dos partidos políticos nas manifestações. No primeiro caso, apesar dos “riscos” que isto envolve, tendo em vista que não se trata de um movimento maduro, mas de algo em florescimento, vejo que serve, em alguns casos, tanto para pensarmos questões como a tão defendida liberdade de pensamento e expressão, como também, para testarmos a força e a amplitude de cada um destes anseios. Já no que tange ao segundo ponto, defendo que também cabem – e devem participar deste processo – não apenas os partidos, mas também, os movimentos e as organizações que lutam constantemente pelos interesses e ao lado da classe trabalhadora. Quer sejam neste momento, ao menos parcialmente, ainda indefinido para todos nós chamados de oportunistas ou de colaboradores, não importa. As ruas estão se constituindo num mecanismo de exercício direto da soberania popular e tais organismos não podem ficar de fora deste novo palco no qual se constrói a história brasileira atual.

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